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  • O mais belo mar! – I

    Introduzindo-nos em considerações metafísicas sobre as mais variadas embarcações, Dr. Plinio nos convida a singrar os misteriosos, por vezes conturbados, mas sempre magníficos mares da História.

     

    Há pouco, eu estava folheando um álbum, com panoramas da ilha de Porto Rico, e vi a fotografia de um transatlântico contemporâneo ancorado no porto. Transatlântico já não é bem uma coisa contemporânea. É um contemporâneo de ontem, porque hoje quase não há mais transatlânticos.

    Mas o álbum deveria datar de uns dez anos atrás, quando os últimos transatlânticos brilhavam com seus últimos fogos e suas últimas luzes, sobre esses mares que vão ficando vazios de navios que transportam gente. São mares comerciais, rotas apenas de transporte de mercadorias.

    A fotografia mostrava a cidade de Porto Rico, iluminada durante a noite com as luzes das casas refletindo-se sobre o Mar das Antilhas; e o transatlântico fortemente, quase feericamente iluminado com as luzes do tombadilho, do convés e das várias escotilhas que dão para os camarotes, todas muito acesas, formando quase um palácio de luz, junto ao porto um pouco escuro e refletindo-se também nas águas; pelo artifício da fotografia, era apresentada uma imagem verdadeiramente feérica do transatlântico.

    O transatlântico: palácio de magnificência

    Cogitando nisso, pensa-se no mar, na beleza de uma viagem transatlântica. Olhando aquele transatlântico de fora para dentro tem-se a impressão de um verdadeiro palácio flutuante. Se uma pessoa, fazendo o trajeto oposto ao do raio de luz, entrasse num camarote através de uma janelazinha, encontraria um ambiente de conforto, de distinção, de afago, de bem-estar, de agrado que lhe daria vontade de não sair do camarote, tão esplendoroso ele seria.

    Poderíamos imaginar várias formas de camarotes: espaçosos, confortáveis, altos, ou pequenos, estreitos; superluxuosos, com cama de plumas, brocados, damascos, acolchoados, tapetes. O passageiro está com o ventilador ligado e a mão posta sobre uma mesa, pensando no tempo que corre, no navio que singra, nas ondas que passam, nas estrelas que se sucedem e no transatlântico que segue a sua rota; e ouvindo o mar que, com os seus mistérios, seus perigos, do lado de fora, como que, bate inutilmente na porta do camarote enquanto que o passageiro, dentro, sente-se tão bem, meio isolado do mundo. Dentro do mundo feérico do transatlântico há a feeria da imaginação que ajuda a pensar a respeito daquilo tudo.

    Então se tem a impressão de que cada cabine do transatlântico é um ninho de bem-estar e de luxo dentro de um palácio de magnificência, de largueza, distensão e movimento.

    Suponhamos que uma pessoa caminhe pelos corredores estreitos do navio, transitando diante das portas hermeticamente fechadas para quem passa. Atrás de cada uma daquelas longas portas, todas anônimas, há um passageiro que, numa viagem de alegria ou de dor, separação ou união, esperança ou decepção, ganância ou vontade de prazer, vai rumando para um destino que não tem nada que ver com o dos seus vizinhos.

    Ela tem a impressão de que atravessa uma longa constelação de mistérios fechados, que se cerraram; por fim, chega aos grandes salões, tomando dois andares do transatlântico: um salão chinês de laca vermelha, um salão francês de sedas cor de água meio verde, e assim por diante, até o clássico bar alemão, com os seus pães pretos, suas linguiças, suas cervejas, seus chocolates e seus antegozos da Europa que vem chegando.

    Tudo isto constitui um palácio em cujo interior gostamos de pensar e de imaginar que andamos, muito mais do que nesses poleiros ou nessas gaiolas de gente, chamadas avião, nos quais se viaja a toda pressa. Nos aviões, a beleza do ar externo não tem nenhuma consonância com o homem, o qual só toma conhecimento do que se passa no ar, mais ou menos, como um produto enlatado conhece o que se passa na vida fora dele. É enlatado que o homem percorre essa coisa tão diáfana, o ar, o qual, depois de passar por tubulações viciadas e nada possuindo da sua pureza originária, só entra no avião por uns esguichos dirigíveis que assobiam em cima do passageiro.

    Caravela: sensação do risco e do heroísmo

    Podemos imaginar quantos navios percorreram os mares. E a feeria das embarcações, com as suas várias formas, começa a passar por nossos olhos.

    Se nos reportarmos não mais aos transatlânticos desta última fase — fim e apogeu dos transatlânticos de metal — mas, recuando no tempo, às caravelas: oh! que beleza! Entretanto, que desconforto para o corpo! Não há a cabine maravilhosa! Nem o salão chinês de laca vermelha, o substancioso bar alemão, e nem um pouco o charme do salão francês!

    Mas há outro charme! O porão do navio realmente é rude, duro, inóspito, porém que tombadilho! Este possui magníficas “chaises longues”, com forma anatômica, onde a pessoa se deita, de maneira a ter a impressão de que não possui corpo? Nem um pouco! Nele há um serviço de restaurante estupendo, oferecendo “whisky”, “gins-tônicas”, sorvetes? Não!

    No tombadilho da caravela existe outro jogo de belezas e encantos! O transatlântico moderno levava o homem a não prestar atenção no mar, no ar, a esquecer-se de que estava navegando. Era um palácio ambulante tão deslumbrante, que só se dava atenção ao palácio. O resto era quase acessório.

    Pelo contrário, o velho veleiro, na sua rudeza, oferecia coisas simples. Mas que coisas! Antes de tudo, velas estupendas, em castelo, em ponta, umas com a Cruz de Cristo ou as quinas de Portugal, outras com armas da Espanha, da França, do Sacro Império, de algum reino da Itália ou da Inglaterra. Ele oferecia os ventos desencadeados e furiosos das tempestades, o odor salino das ondas que inundavam às vezes o tombadilho e voltavam deixando suas madeiras embebidas de água; mas o homem, com a sensação do risco e do heroísmo, ia cortando o vento e fendendo a natureza; ou as noites doces, estreladas, tépidas, nas quais se tinha a impressão de que cada estrela sorria para cada passageiro e estavam tão próximas que se poderia brincar com cada uma delas, como se alguém acendesse uma maravilhosa luz e surgisse um céu recamado de lâmpadas de Aladim!

    Então, havia a doçura das brisas que bailavam em torno do rosto, afagavam, faziam promessas do feliz destino da viagem. Ou, nas noites escuras, misteriosas, o deleite da incerteza. Ao avançar, o veleiro produzia a sensação de uma conquista no escuro, de uma conquista, por isso mesmo, bela. Cada pessoa se sentia dignificada.

    Que riqueza existe na alma do homem e no universo feito por Deus para haver todo um conjunto de jogos de deleites diferentes! E como os deleites do veleiro antigo são superiores aos deleites do transatlântico moderno!

    Espírito admirativo

    Quando falei do transatlântico, referi-me à cabine recamada de damasco – eu gosto de damasco. Em nossa sede principal há uma sala recamada de damasco; chama-se Sala da Tradição. Aquele damasco foi comprado em Buenos Aires e eu quis que ali ele fosse colocado para a glória de nosso Movimento, o qual somente visa a glória de Nossa Senhora.

    Aprecio muito tudo isso. Gosto de ter uma alma tal que saiba admirar os brocados de uma cabine de um transatlântico, e também as tempestades com as quais se defronta um veleiro. Admirar esses diversos jogos de coisas, compreendê-las e ter a alma bastante flexível para se embeber de todas elas até o fim, e perceber que ainda possui outras disposições de espírito para admirar outras coisas: aí está, verdadeiramente, uma vastidão maior do que a do mar. Eu não hesito em dizer, maior do que a do ar; essa é a vastidão de qualquer alma humana que verdadeiramente saiba admirar!

    Basta sabermos admirar e termos a alma com todas as elasticidades da admiração, para sermos capazes de gostar das coisas. Por causa disso, depois de passarmos pelo veleiro magnífico da era dos descobrimentos, rumando para trás, chegaremos a uma época em que o Oceano Atlântico quase não era navegado.

    Então, sair do Estreito de Gibraltar, dar a volta pela Península Ibérica e chegar ao Canal da Mancha era um verdadeiro risco, uma temeridade. E o aventureiro que chegasse até os Açores ou as Canárias era tido quase como um Cristóvão Colombo, de tal maneira o homem pouco conhecia o mar. A brutalidade do Oceano Atlântico, tão menor que a do Pacífico, deixava aterrados os nossos remotos antepassados europeus.

    A epopeia da conquista dos Lugares Santos

    Na Idade Média, os homens, em navios pequenos, tinham a audácia de atravessar o Mediterrâneo, hoje quase considerado um lago. Naviozinhos sem grande beleza, com pequenas velas triangulares, nos quais iam homens magníficos: os cruzados! Neles poderíamos admirar Godofredo de Bouillon, São Luís e tantos outros que iam aos grupos para a Terra Santa. As navezinhas, sem beleza no seu aspecto material, conduziam homens com almas cheias de beleza.

    Nas cruzadas de São Luís, podiam-se ouvir à noite os guerreiros cantarem o “Salve Regina, Mater Misericórdiæ”, que um monge de Cister, chamado Bernardo de Claraval, acabava de compor e que, como um frêmito, atravessara a Cristandade inteira. E depois, chegando ao Oriente, São Luís, com sua armadura de ouro, saltava dentro da água com pressa de pisar em terras do Egito, para atacar o adversário e começar a epopeia da conquista dos Lugares Santos.

    Aí se percebia outra forma de beleza, não do navio, da vela ou do Mediterrâneo com o seu azul magnífico, mas da alma humana, mais bela que o mar. Bonito é o Sepulcro de Cristo que se trata de libertar. Mais belo ainda é Cristo Ressurrecto de dentro do Sepulcro, que se trata de glorificar.

    Os vikings

    E, indo mais para trás, somos transportados pela imaginação para outro tipo de navegação.

    Na Europa nórdica, encontramos o Mar do Norte com suas brumas. Nas porcelanas dinamarquesas essas brumas são magnificamente representadas: um azul que se desfaz numa neblina prateada; uma neblina prateada que se desfaz em azul. Não se percebe bem o que é água e o que é neblina em toda aquela massa indefinida, dentro da qual os dinamarqueses de hoje gostam de representar algum peixe ou outra coisa viva, mas no interior dela eu gosto de imaginar a presença dos vikings.

    Dos vikings dos antigos tempos, daquelas tribos com duzentos, quinhentos homens no máximo, que se aventuravam em frotas de barcos magníficos, com aquela quilha parecida com o pescoço do cisne, que vem para trás e se joga para frente. Tinham ao mesmo tempo a elegância do pescoço do cisne e a agressividade do bico de uma águia.

    Quinhentos homens utilizavam aproximadamente cem barquinhos. Eles se chamavam reis do mar, porque era o reino inteiro que viajava. Enquanto as mulheres ficavam numa ilha ou num lugar qualquer onde não pudessem ser atacadas, os homens singravam os mares para descobrir terras novas a fim de levar as famílias; ou iam simplesmente à pesca de baleias, arenques e outros bichos para se alimentarem durante o inverno.

    Podemos imaginar como eles viajavam. Nas horas de perigo, todos com escudos encostados uns nos outros, fazendo um paredão de um lado e do outro, com a mão esquerda seguravam o escudo e com a direita a lança em ponta, e cantando canções “pré-wagnerianas”. Depois de uma navegação arriscada, entravam por um fiorde escarpado da Noruega ou um porto brumoso da Inglaterra ou, indo mais além, chegavam até a Islândia, a qual representava já algo do mundo novo que se tratava de atingir.

    Que série de embarcações maravilhosas! Entretanto, quanta outra coisa se poderia dizer sobre navios!

    Veneza, a feérica, perdeu o império comercial dos mares…

    Minha imaginação se reporta a outro quadro completamente diferente.

    “Ancien Régime”(1): delicadezas, reverências, elegâncias. Uma cidade à beira-mar. De noite, brilham luzes e fogos; de vez em quando, cravados no fundo do mar, uns espetos com lanternas. É Veneza, a feérica!

    Na cidade há uma expectativa geral. De longe, ao mar, ouve-se uma música de Vivaldi; depois se veem as luzes e se percebem as flores, das quais se sentem os perfumes; escutam-se as batidas suaves dos remos: é uma nau toda dourada, com as elegâncias do estilo do “Ancien Régime”; na frente, uma figura alta, com um barrete frígio, com aquela parte voltada para a frente, e todo vestido com um traje de cor bordô profundo e que olha como um rei.

    É o Doge de Veneza, que volta na sua famosa nau de gala, o Bucentauro, da festa dos desponsórios de Veneza com o mar. Para realizar esses desponsórios, à tarde miríades de gôndolas saem, cujos gondoleiros tocam violinos e cantam festivamente; e o Bucentauro com o famoso conselho dos dez, tendo o Doge, à frente, homens e damas de sua corte, ao som de músicas. Vão até alto-mar do Adriático e, no momento solene, todos param, os remos se levantam. Expectativa geral. O Doge toma, de um escrínio precioso, um precioso anel e o joga no fundo do mar: é o casamento, os desponsórios de Veneza com o mar!

    Isso afirmava outrora o poder de Veneza sobre o Adriático e o Mediterrâneo; posteriormente houve a Veneza de Marco Polo, que mandava homens ir a pé até a China e, quando voltavam, contavam o que viram.

    Mas depois uma nação espalhou em Veneza a desolação. Barcos dessa nação atracaram em Veneza e deles desceram homens altos e bem largos, robustos, olhos e cabelos pretos, pele clara, passo firme, decidido, falar cantante e franco. Mostravam especiarias, dizendo: “Todas essas coisas procedem do Oriente. Nós as trouxemos por mar! Demos a volta à África, pelo Cabo da Boa Esperança!”

    Contam os historiadores que os nossos ancestrais portugueses puseram à venda as mercadorias que eles traziam – pimenta, cravo, canela, açúcar, baunilha – a preço de arrebentar o varejo veneziano. Era a prova de que o domínio das especiarias pertencia a Portugal. Não se vinha mais por terra, mas por água. Portugal tinha rasgado o monopólio veneziano e, como também a Espanha faria depois, inundou a Europa com as especiarias. Houve, então, dias inteiros de pranto e consternação em Veneza.

    …mas ganhou o império da beleza

    Não conheço a História de Veneza nos seus pormenores, mas foi com certeza nessa circunstância que se deu uma revelação para Veneza; ela perdeu o império comercial dos mares, mas não tinha percebido que ganhara um império muito mais precioso: o da beleza.

    Veneza aproveitara o tempo de sua riqueza para se encher de palácios, de obras-primas imortais e para tornar-se umas das cidades mais belas e talvez a mais original de todo o universo. E quando ela começou a decair comercialmente, as nações, inconsoláveis pela sua decadência, começaram a visitar a feérica moribunda que ia expirando. E todos lhe traziam a sua contribuição, o tributo de sua admiração: o ouro do turismo que começava. Veneza foi, talvez, o primeiro centro internacional de verdadeiro turismo. O mundo inteiro se encantava e lá gastava dinheiro, pois não queria que Veneza morresse!

    Então Veneza compreendeu que, continuando a vida de luxo, de festa, de arte, prolongava sua própria vida; e que ela estava casada com o “pulchrum”, possuía uma beleza imortal. Somente nessa ocasião ela se deu conta, pela admiração dos homens da terra firme, de que cada um de seus quarteirões é como um transatlântico, e de que Veneza se assemelha a uma esquadra maravilhosa, fixa no fundo da laguna: em cada ilha, cada bloco de casas é admirável. Veneza é muito mais do que o transatlântico que, no começo desta exposição, eu fiz figurar diante de vossos olhos.

    Vós ficastes encantados quando falei do transatlântico de Porto Rico. Ao ver a fotografia dele, encantei-me também; mas quando terminamos nossa viagem em Veneza, que baixa de nível esse transatlântico! Nosso espírito foge espavorido e não tem vontade de pensar nas magníficas caravelas portuguesas, nem nas naus vikings. Chegou a Veneza, parou! Ali existe qualquer coisa de feito, de acabado, de definitivo.

    Percorremos mentalmente vários tipos de navios. E em cada um deles as cordas de nossa admiração, como o alaúde chinês — que aqui foi tocado no início de nossa reunião —, vibraram de um determinado modo. E fomos transportados, assim, da vida quotidiana, da terra firme, para outros horizontes. Acabamos de velejar pelos mares da História, e compreendemos que esta é um mar mais bonito do que todos os mares.

    Continua no próximo número…

     

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/11/1979)

    Revista Dr Plinio (Fevereiro de 2012)

     

    1) Período da História da França que precede a Revolução Francesa.

     

  • Procurar sempre o mais perfeito

    A alma inocente, favorecida pela graça, tem um movimento ascensional em direção a Deus, desejando sempre o maravilhoso. Entretanto, a Revolução procura perverter as pessoas desviando-as desse caminho, apresentando-lhes falsificações da verdade, do bem e do belo.

     

    No fundo, o homem encontra aquilo que procura. E, segundo uma expressão francesa muito adequada, “quem não sabe o que procura, não sabe o que encontra”. Resultado: aquele que procura uma determinada coisa a encontra; se não a procura, ele acaba não a encontrando.

    O princípio de todas as virtudes

    Em termos mais precisos, se uma alma é colocada diante de uma coisa verdadeira, ela se pergunta qual é a conclusão, qual a verdade que parte daí. Diante de uma coisa boa: pode haver ainda melhor? Diante de uma coisa bela: há um modo de embelezá-la mais? Quando a alma tem esse movimento, ela possui em si o princípio de todas as virtudes. No fundo, a alma é feita de tal maneira que, colocada diante daquilo que é segundo Deus, ela quer ainda mais.

    A verdade, o bem, a beleza criados são reflexos do Bem, da Verdade, da Beleza incriados. E quando a pessoa, diante da verdade, do bem e da beleza criados quer mais e mais, ela procura Deus. Sua alma está em ascensão, buscando crescer cada vez mais e atingir o píncaro. Instintivamente, por causa dessa disposição prévia de espírito, ela procura sempre o mais perfeito. E o resultado é que encontra.

    Então, por exemplo, diante de um lindo copo de cristal, a pessoa pode se perguntar: com um quartzo rosa, meio lilás, elaborado, não se faria também um copo bonito? Que pena as esmeraldas serem tão pequenas, porque não é possível fazer um copo de esmeraldas… Mas como seria bonito um copo de esmeraldas! O que significa esse movimento da alma? Significa desejar mais alguma coisa, que é segundo Deus.

    Uma pessoa ouve falar das rodas(1) da Santa Casa de Misericórdia, da caridade daquelas freiras, e no primeiro momento imagina: Como seria bonito que, em vários lugares do mundo, freiras vestidas como Santa Catarina Labouré — que recebeu a visão da Medalha Milagrosa —, com aquele chapéu branco, hábito preto, cuidando das criancinhas dos outros, com uma pena, uma condescendência que as mães não tiveram, ensinando a Religião e aguentando as ingratidões das crianças, que às vezes são ingratas com os pais e quanto mais o serão com quem não são os pais! E carregando a cruz que o pai, ou a mãe, prevaricador não carregou! Que bonito refletir: de repente algo da graça, através da freira, incide sobre a criança e a alma desta vai se modelando!

    Depois de ter imaginado isso, vem uma pergunta: como seria com Santa Catarina Labouré? Poderia eu imaginá-la? E posteriormente surgiria outra indagação: e se uma criança ignota fosse parar nos braços de Nossa Senhora, como a Santíssima Virgem faria?

    Querer melhorar continuamente

    Por que a alma vai por si imaginando o mais maravilhoso? Porque ela tem esse movimento ascensional rumando para Deus, que é o dinamismo de sua própria inocência, favorecido pela graça, naturalmente. Com essas cogitações, que são naturais à alma inocente, ela procura coisas maiores e, procurando, encontra. E a alma tem a proteção do anjo da guarda, de Nossa Senhora.

    Representam-nos tantas vezes o anjo da guarda amparando uma criança para não tropeçar numa pedra; e é verdade. Mas quanto mais ele a ajuda para não tropeçar num sofisma, num erro, para acertar com a verdade, ter mais estímulo para querer o bem, amar a beleza! Quantas e quantas vezes movimentos bons de nossa alma foram do anjo da guarda, que cochichou ao nosso espírito, sem percebermos, tal coisa, tal outra, e caminhamos para frente! Nossa alma, angelizada, transportada por ele, voa de degrau em degrau, sob os auspícios e o bafejo dele. Isto é subir!

    Então, procurando se encontra, e assim se produz também formas de perfeição cada vez maiores. Começam a aparecer os artistas, os literatos, os pensadores, os filósofos, os santos, a civilização inteira floresce. É a Cristandade, a marcha para cima. Num ambiente assim, em que as pessoas são ávidas disso, cada passo numa das vias — verdade, bem ou beleza — todo mundo nota: Olha aquele lá, que vocabulário! E aquele outro, que maneiras educadas! Aquele outro, que bondade! E aquele outro, que firmeza no pensar e que coerência! E assim por diante. E todos os pequenos progressos são notados, aplaudidos por todo mundo, e tudo na sociedade trabalha para que a virtude seja fácil de praticar e atraente. É o desejo de melhorar continuamente.

    Às vezes a Revolução apresenta algo com ares de “verum, bonum, pulchrum”

    No meio disso, que estou apresentando quase como uma regra implacável, há, entretanto, muito de placável, que é celestialmente desconcertante. Na vida de todo mundo que vai seguindo o caminho da ascensão, de vez em quando se levanta — todos conhecem a cobra tipo naja, que se ergue e se apresenta ao homem, pondo a língua e querendo morder —, a semelhança de uma naja, uma tentação. E essa tentação é algo da Revolução que procura apresentar-se com ares de “verum, bonum, pulchrum”, como quem diz: “Olha, eu tenho até mais do que o caminho do bem que você está trilhando; siga-me!” Isso houve em várias épocas da História, como exemplificarei.

    Há também o contrário, no caminho da Revolução: o “verum, bonum e pulchrum” às vezes atuam como Nosso Senhor fez com São Pedro. Jesus parou e olhou para ele. E alguns fazem como São Pedro: se deixam apanhar por aquele olhar, convertem-se e choram amargamente. Os que estão neste auditório, olhando para o tempo em que não pertenciam ao nosso Movimento — e andavam por esses caminhos que são descaminhos —, é impossível não se lembrarem de uma ou outra ocasião, quando de repente algo de “bonum”, ou de “verum”, ou de “pulchrum” lhes brilhou mais. Então vacilaram um pouco, mas não desviaram o caminho; até o momento em que Nossa Senhora lhes fez aparecer a Vocação.

    São as horas terríveis e, ao mesmo tempo, comovedoras da História. Há ocasiões da História em que o mal se apresenta sem máscara e diz: “Eu sou o mal! Sigam-me!” E as pessoas o seguem. Em outras ocasiões, o mal se apresenta com aparências de “verum”, de “bonum” e de “pulchrum”. Olha resplandecente e declara: “Vou fazer um raciocínio e ninguém conseguirá desmontar!” Ou então: “Vou praticar um ato de virtude que ninguém conseguirá imitar!” E faz certo ato. Ou então: “Vou fazer uma coisa linda, que ninguém poderá copiar nem, menos ainda, exceder!” E funda uma escola artística. E diz a cada pessoa: “Você não quer “verum”, ou “bonum”, ou “pulchrum”? Venha comigo, eu lhe dou. Olha isso, aquilo, aquilo outro!”

    Há uma forma do obsessivo nesse convite, semelhante ao guizo da cascavel. Antes de a cascavel morder ela toca aquele guizo. Assim também faz o mal: “Olha aqui! Olha aqui! Olha aqui!”

    O princípio da tábula rasa

    Estou me lembrando de uma coisa assim, que é um princípio filosófico o qual se apresenta com uma clareza extraordinária, mas é uma mentira em nome da qual não sei quantos despencaram ladeira abaixo. É o princípio da tábula rasa, que diz: antes de estudar certa coisa, devo fazer abstração de todos os dados que eu tinha sobre ela. E antes de julgar, também devo fazer um estudo novo. Porque o que eu sabia antes pode deformar o meu pensamento. Vou partir de um grau zero, como uma tábua rasa, sobre a qual um carpinteiro passou a plaina; aí estou em condições para ter um pensamento límpido e verdadeiro.

    À primeira vista, parece a coisa mais evidente que há. O indivíduo pensa: “Eu me dispo de preconceitos e faço um raciocínio sereno”. Aparentemente é de uma verdade que tem garras, arrasta. Nosso instinto diz: há algo nisso de falso. Mas se alguém pedir: “Apresente o argumento verdadeiro contra isso!”, temos que pensar muito para arranjar um castelo de pequenos argumentos a fim de mostrar que o princípio da tábula rasa é errado.

    Quem é intransigente com relação aos maus está progredindo na virtude

    Mas, quando o mal toma ares de “bonum, verum, pulchrum”, é apenas por algum tempo. Pouco depois, ele deixa a máscara no chão e mostra a careta por inteiro. Mas o indivíduo já se habituou, se viciou com o mal e aí não tem mais jeito; ele cede mesmo. Quer dizer, é uma forma de desnaturar, de corromper, de deteriorar as pessoas. No fundo, quem segue o mal tem uma sensibilidade tão fina que, quando o “verum, bonum, pulchrum” é apresentado sob máscara, as pessoas, nas épocas de transição, se comovem e aplaudem esse “verum, bonum, pulchrum” falsificado. Aplaudem porque sentem que é falsificado; percebem ser uma ponte para elas mesmas, sem muito choque, chegarem ao mal.

    Eu termino com esta conclusão: prestem atenção, quem possui muita percepção para saber quem não presta, tem vontade de subir. Quem possui pouca percepção para saber quem não presta, tem vontade de descer. Quem tem muita moleza com aquele que não presta, é conivente e está descendo. Quem possui muita intransigência com aquele que não presta, é bom e está subindo. Essas coisas à distância se percebem, se discernem. O resto não é senão hipocrisia.  v

     

    (Extraído de conferência de 4/4/1981)

     

    1) Caixas em formato cilíndrico colocadas junto às portarias de conventos e Santas Casas de Misericórdia, destinadas a receber crianças abandonadas pelos pais.

     

  • Heróicos na virtude da confiança

    “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais vossos corações”, diz o salmista (94, 7-8). Fazendo eco ao autor sagrado, Dr. Plinio nos aconselha a não desprezarmos as inspirações da graça em nossa  alma, sobretudo quando ela nos move à esperança contra todas as aparências adversas, à confiança heroica e ilimitada na misericórdia de Maria Santíssima.

    Conforme nos ensina a experiência na vida espiritual, pode-se dizer que a fidelidade daqueles que se mantêm fiéis quando todos os motivos lhes falam de desesperança e todas as razões lhes  impõem dúvidas, vale mais para a causa católica do que a fidelidade daqueles que não enfrentam tempestades e borrascas na sua trajetória de piedade.

    Uma pessoa que, em condições adversas, permaneça fiel, é como uma árvore que se mostra mais frondosa do que todas as outras que não resistiram à tormenta, ou que por esta não tenham  passado.

    Aquela se sobressai, como prêmio pela sua fidelidade. Creio que essa é uma constante na história da Igreja e das obras católicas ao longo dos tempos.

    Uma vocação para todos

    Por exemplo, se um jovem continuar a observar os Mandamentos e a praticar a virtude, num ambiente onde tudo o solicita para o pecado e a prevaricação, dele poderá surgir um grupo de católicos que, postos diante de uma perseguição religiosa, se transformarão em heróis da fé e escreverão uma epopeia nos anais do catolicismo. Seria uma forma de a providência, a rogos de Nossa Senhora, premiar a fidelidade deles.

    Tenho para mim, aliás, que todos nós somos chamados a essa espécie de vocação, isto é, a de sermos heroicos na confiança. Em vista disso, precisamos sempre confiar que o plano e os desígnios de Deus a respeito de cada de um nós se realizará, apesar de todas as aparências em sentido contrário. E se, apesar dessas circunstâncias contrárias, continuarmos obstinadamente fiéis, essa fidelidade se torna invencível, move montanhas e opera milagres. Muitos fatos nas vidas dos Santos, contados na sua singeleza, têm um sabor de historietas encantadoras, mas, no fundo, possuem altíssimo significado, e nos falam dessa força da confiança invencível.

    O milagre na vida dedois jovens beneditinos

    Ilustra muito bem essa verdade o episódio ocorrido na vida de São Mauro e São Plácido, dois jovens discípulos de São Bento, narrado por São Gregório Magno. Conta-nos este que São Plácido, o mais novo deles, estava se afogando nas águas de um rio. Vendo o religioso em perigo, São Bento ordenou que São Mauro o fosse resgatar. Este não hesitou um instante e, obedecendo à ordem do Superior, lançou seu escapulário nas águas e andou sobre ele, como sobre um tapete. Chegou até São Plácido, o tirou do rio e os dois retornaram andando na superfície líquida, de volta para junto de São Bento.

    Pressentimento de que nossos melhores desejos se realizarão

    Muitos dirão: “Milagre da obediência!” Sem dúvida. Entretanto, também a confiança tem seu prêmio próprio.

    Ela é uma forma de obediência. É uma espécie de pressentimento interior, nascido de uma ação da graça, que nos faz sentir com inteira certeza que algo desejado pelos melhores lados de nossa alma se realizará.

    Essa é a definição da confiança. Às vezes, há evidências contrárias que procuram desmentir essa confiança. Porém, se esperarmos e pedirmos muito, contra ventos e marés, aquilo se fará verdadeiramente. Poderá vir por caminhos inesperados, caprichosos, depois de longa demora que constituirá para nós uma dura provação.

    Mas, quanto mais tardar, maior será a glória, mais brilhante o resultado de nossa perseverança, pois aquilo se realiza certamente. E é preciso sermos heróicos nesse ponto: quando tudo afirma o contrário, devemos dizer: “Continuarei a esperar com mais afinco, pois o que desejo acabará se operando, pela misericórdia de Maria Santíssima!”

    Ponto de partida para um reflorescimento

    Dentro do nosso próprio movimento temos exemplos do quanto pode a força da confiança. Com efeito, mais de uma vez temos visto núcleos de amigos nossos onde todos se mostravam fervorosos e animados no começo de sua trajetória na vocação. Com o passar do tempo, porém, um se deixa tomar pelo desânimo, outro pela tibieza, aquele esmorece na prática da piedade, e o grupo se ressente dessa estagnação espiritual. Mas, se um deles permanecer fiel ao fervor primeiro, esse núcleo de amigos acabará recobrando ânimo e renascerá das cinzas.

    Isso que se passa num setor do movimento, pode se dar no grupo constituído numa cidade qualquer.

    De início, todos estão confiantes e esperançosos quanto ao futuro da obra naquela região. Lançam-se com fervor no apostolado. Contudo, sopra um vendaval, todos se dispersam de um momento para outro.

    Exceto um que, se não perder aquela fidelidade invencível, com segurança e sem choramingos, será o ponto de partida para um reflorescimento daquele grupo. O mesmo princípio de aplica a cada obra nossa, de caráter individual, dentro da vocação. Começamos um apostolado, e temos a impressão de que não vai para a frente. Ficamos abatidos. Se continuarmos fiéis, tudo reverdecerá, ao cabo de algum tempo surgirão ótimos e duradouros frutos.

    Sintomas de que o pressentimento nasce da graça

    Essa é a confiança cega de quem acredita naquele pressentimento, percebe pela fé que este é uma voz da graça e persevera contra todas as aparências externas. Alguém poderia levantar a seguinte questão, a meu ver legítima: como se pode distinguir a simples presunção de um pressentimento válido, pois às vezes se tem uma série de pressentimentos que não se realizam. Como discernir, então, o bom pressentimento que nos vem de Deus?

    Eu diria haver três sintomas que nos indicam a boa procedência desse pressentimento. Em primeiro lugar, sentir que desejo algo pelos melhores lados de minha alma e, portanto, os piores estão afastados. Em toda alma, os melhores lados são: o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora, à Santa Igreja Católica e à Civilização Cristã.

    Em segundo lugar, sentir que quando espero algo, minha piedade, minha abnegação, florescem e minha alma encontra alegria dentro da virtude.

    E o terceiro sintoma: quando duvido daquilo, minha piedade fenece, começo a sentir tristeza em ter sido chamado por Nossa Senhora, e a virtude, em vez de ser um palácio de luz, passa a ser para mim uma masmorra sombria. Minha dedicação desaparece.

    Essas características configuram, portanto, o pressentimento suscitado pela graça dentro de minha alma. Não é um privilégio dos justos Não se deve pensar que esses estímulos da graça sejam privativos dos santos. Até pecadores os recebem, como ação da clemência divina para conduzi-los à emenda de vida. A história está semeada de exemplos dessas vozes da graça agindo no interior de almas pecadoras, levando-as ao arrependimento e a uma heroica prática da virtude.

    Não se trata de uma visão nem de revelação. É um pressentimento, no sentido etimológico da palavra: algo que se sente que será, antes que venha a ser. E esse pressentimento se realiza e se confirma.

    Assim, confiando em que os nossos melhores desejos se realizarão, somos capazes de praticar muitas virtudes. Se essa esperança decai, nossa vida espiritual fenece. Não fechemos, pois, nossos ouvidos à voz interior da graça. Não julguemos que todo pressentimento como tal é bobagem à qual não se deve dar importância. Sem dúvida,  dar crédito a qualquer pressentimento seria  temeridade e pode mesmo ser superstição. Cumpre saber discernir a obra do Espírito Santo em nós, daquilo que é produto de nossos caprichos. Daí a necessidade de conferir nossas moções interiores com as características que acima estabelecemos.

    Verificados esses três sintomas, podemos calmamente enfrentar até mesmo o inverossímil, porque este, pelo favor de Nossa Senhora, certamente se realizará. Esse é o heroísmo da confiança.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 12/1/1971)

  • “Confiando em Vós, não temerei os males”

    Por maiores que sejam as dificuldades, espirituais ou temporais, que devemos enfrentar em nossa vida, a atitude constante que nos cumpre ter diante delas é a de uma confiança incondicional em Nossa Senhora.

    Na certeza desse socorro materno encontramos a coragem para fazermos face a qualquer adversidade, dizendo com o salmista (22, 4): “Confiando em Vós, ó Mãe, não temerei os males, pois na vossa luz, verei a Luz, vosso divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo!”

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 3/5/1993)

  • Espelho perfeito da Sagrada Face

    Nosso Senhor Jesus Cristo é o modelo de tudo quanto há de bom, grandioso e belo no mundo. Se Ele não tivesse existido ou não fosse Deus, a vida terrena seria algo tão fútil e vazia, uma mera sucessão de deleites alternados com sofrimentos que, em última análise, não se encontraria nela razão autêntica para ser vivida.

    Se esse princípio é verdadeiro, devemos reconhecer que a Santa Igreja Católica é o espelho perfeito de seu Fundador, o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, se alguém desejar sentir um pouco da impressão que teria ao ver a face sagrada do Divino Redentor, pode fazê-lo ao perceber os movimentos de sua alma ao contemplar as maravilhas engendradas pelo espírito católico ao longo dos séculos da Civilização Cristã.

    Pode percebê-lo ao admirar uma catedral gótica, uma grande pompa litúrgica, um estupendo órgão tocando composições sacras, um coro cantando músicas gregorianas, ou assistindo a uma emocionante celebração eucarística, com um clero piedoso e um povo fiel. Podemos pensar numa encantadora comemoração de Natal na Catedral de Reims, de Amiens, de Colônia, ou de Bourges, em meio às mil coruscações de velas acesas, espargindo cintilações sobre as colunas de pedra e os vitrais recolhidos nas suas ogivas, na abençoada noite natalina.

    Semelhantes sensações teria essa alma diante de incontáveis outros monumentos e obras da Cristandade, próprios a suscitar no coração humano aquela impressão que lhe causaria a visão da face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque, repetimos, todas as belezas e riquezas da Igreja e da civilização por ela inspirada, irradiam-se da figura do Filho de Deus e n’Ele encontram sua incomparável matriz. Ele é a alma de envergadura infinita que foi e continua sendo a autora de todas essas maravilhas, através dos séculos.

    E não compreender essa verdade, não perceber os sentidos últimos dessa unidade sublime que unge e explica todos os aspectos belíssimos da Igreja, é ter compreendido pouco ou não ter compreendido nada da mesma Santa Igreja Católica Apostólica Romana…

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 30/3/67)

  • São José e a fecundidade da vida interior

    Quando alguém se refere aos grandes vultos da história, imediatamente nos vem à memória a figura de um genial estadista, de um celebrado filósofo, de um brilhante general. Todavia, tudo isso não é nada em comparação com a sublimidade de ter colaborado na realização da Redenção. Eis a incomparável vocação de São José, destacada por Dr. Plinio, que no-lo apresenta como modelo a ser seguido por todos os católicos.

    A ignorância religiosa em que vivemos tem produzido, entre outros efeitos nocivos, o desvirtuamento inteiro do significado real de algumas determinações da Igreja, que, quando mal  interpretadas, são inteiramente estéreis de frutos espirituais, e quando bem compreendidas, são férteis em graças e proveitos de toda ordem.

    São José, modelo de todas as grandes virtudes

    É o que se dá, por exemplo, em relação ao culto de São José que, proposto pela Igreja como modelo dos chefes de família e dos operários, é também, pelo imenso acervo de virtudes com que foi enriquecido pela graça, modelo ideal de todas as grandes virtudes católicas.

    A maioria dos católicos, porém, não pensa seriamente em tomar São José como seu modelo. De um lado, a imensa santidade do pai [jurídico] de Jesus, a quem a Igreja cultua com a suprema dulia, parece um ideal absolutamente inatingível. De outro lado, a fraqueza humana de que nos sentimos repletos, solicitada por toda sorte de inclinações, nos afasta por tal forma de qualquer ideal espiritual, que julgamos muito já ter feito quando nos libertamos do jugo do pecado mortal e venial, e vivemos uma vida espiritual estacionária, relativamente suave, pois que se limita à conservação do terreno conquistado, mas inteiramente estéril para a Igreja e para a maior glória de Deus.

    Em busca da perfeição espiritual

    A Igreja certamente não pretende que seus filhos igualem em glória e em virtude aquele que, depois de Maria Santíssima, foi o mais elevado expoente de virtudes da humanidade.

    Por outro lado, porém, ela não quer de modo algum que limitemos nossos horizontes espirituais a uma vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea ilusão de que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que brilhou no gênio de São Tomás, na combatividade de Santo Inácio, no recolhimento de Santa Teresa e na caridade de São Francisco.

    A Igreja desmascara esta falsa humildade, apontando nela, ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou uma concepção orgulhosa da virtude, considerada mais como fruto do esforço humano do que da misericórdia de Deus. E, ao mesmo tempo, ela se serve do exemplo de seus grandes santos para “levantar ao alto” nossos corações, indicando-nos que a única preocupação real desta vida, o único problema verdadeiramente importante de nossa existência, é a aquisição daquela perfeição espiritual que será o único patrimônio que conservaremos, a despeito das crises financeiras, das comoções sociais e da fragilidade das coisas humanas, para, finalmente, transpormos com ele os próprios umbrais da eternidade.

    É disto exemplo frisante o grande São José. Nascido de família ilustre, arrasta, no entanto, uma existência obscura que, contrastando com o brilho de seu nome, o colocou na mais baixa camada da sociedade de seu tempo. Escasseiam-lhe os dotes naturais com que os homens se fazem grandes. Não dispõe de exércitos nem de súditos, que levem ao longe a glória de seu nome. Não dispõe do dinheiro com que galgar às altas posições. Vive humilde e desprezado, à sombra do Templo majestoso, e no próprio país em que reinara a sabedoria de Salomão.

    No entanto, brilha nele a chama da caridade. Um intenso amor de Deus, uma espiritualidade e uma vida interior admiráveis fazem de sua alma objeto da complacência da Santíssima Trindade, e este homem humilde é chamado a co-participar de modo direto em acontecimentos dos quais decorreriam os mais notáveis fatos da história do mundo.

    A Religião católica, coluna da civilização

    A Redenção do mundo, que é o fato central de toda a nossa história, determinou a queda do paganismo, o aparecimento e o triunfo da Igreja Católica, a implantação de uma civilização baseada em concepções inteiramente novas da família, do Estado, do indivíduo e da Religião, que foram os fatos iniciais e a causa do grande progresso que hoje admiramos.

    A família pagã, transformada e sobrenaturalizada pelo contato com os Sacramentos da Igreja, transformou-se em foco admirável de perfeição espiritual e em escola austera da disciplina dos instintos inferiores.

    O Estado pagão, transformado em sua base pelo Catolicismo, deixou de ser privilégio de plutocratas ou demagogos, para ser antes de tudo um admirável meio de distribuição equitativa da justiça e proteção a todos os indivíduos.

    O indivíduo, que no paganismo era presa de suas paixões, viu abrir-se diante de si o admirável ideal de perfeição espiritual pregado pelo Homem-Deus; e o homem medieval, descendente dos sibaritas da Antiguidade, se transformou no cruzado, no asceta ou no filósofo cristão.

    A Religião, enfim, conseguiu trazer ao mundo, com seus Sacramentos, com a graça de que é veículo, e com o admirável apostolado hierárquico da Igreja, uma continuidade de ação santificadora que tem sido a coluna da civilização.

    Todos esses acontecimentos gloriosos tiveram sua origem na Redenção. São José, pela admirável correspondência à graça com que se distinguiu, colaborou de modo eminente no plano divino da Redenção. E, como tal, é merecedor de grande parcela da glória que, legitimamente, cabe ao Divino Salvador, pela imensidade de benefícios com que nos cumulou.

    Inestimável valor de uma vida espiritual intensa

    Vemos, pois, a admirável fecundidade de uma vida que todas as circunstâncias naturais tendiam a tornar estéril. Vemos a prodigiosa capacidade de ação da santidade que, no recolhimento e na humildade, colaborou diretamente em acontecimentos muito mais importantes e teve uma participação incalculavelmente mais notável em toda a história da humanidade do que Alexandre com seus exércitos, Kant com seu saber arrogante, ou Maquiavel com sua diplomacia astuta e amoral.

    Vida interior, portanto. Vida interior intensa, constante, ilimitadamente ambiciosa, no sentido espiritual da palavra, eis a grande lição que (o exemplo) de São José nos deixa.

    Intimamente unidos a Nossa Senhora como o foi São José, não nos deve desanimar, ante a grandeza dessa lição, a escassez de nossas forças, pois que devemos exclamar como encorajamento: “Omnia possum in eo qui me confortat — Tudo posso n’Aquele que me conforta”.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Transcrito do “Legionário”, nº 116, de 26/3/1933. Título e subtítulos nossos.)

  • A primeira gota de uma torrente de graças

    Ele era um pequeno funcionário público de Lourdes. E também um cético diante das recentes aparições da Santíssima Virgem que, naqueles idos de 1858, vinham comovendo essa cidade dos Pireneus. Contudo, movido pela curiosidade, decidiu comparecer certo dia à gruta de Massabielle, nos arredores de Lourdes, no momento em que a Mãe de Deus entabulava mais um colóquio com a camponesa Bernadette Soubirous.

    A partir de então, a existência do incrédulo personagem mudaria para sempre, conforme ele próprio testemunhou: Após assistir à cena, senti-me como saído de um sonho, e me afastei da gruta. Não conseguia voltar a mim e um mundo de pensamentos agitava-se em minha alma. A Senhora do rochedo ocultava-se bem, mas eu percebera sua presença, e estava convencido de que seu olhar maternal voltara-se para mim. Oh! hora solene de minha vida! Perturbava-me até o delírio pensando que eu, o homem das ironias e das presunções, fosse admitido a ocupar um lugar perto da Rainha do Céu!

    Para Dr. Plinio, a história dessa tocante conversão era eloquente motivo para se crescer em confiança na insondável misericórdia de Maria Santíssima. E comentava: “Esse homem teve noção de que realmente existia a pessoa com quem Santa Bernardette conversava. Portanto, aquela visão não podia ser uma abstração, nem era uma fantasia. A camponesa dialogava com alguém, e o seu modo de agir nessa circunstância possuía todas as características objetivas de uma interlocutora. Donde ser inegável a autenticidade da cena. O fato de ter presenciado este diálogo diretamente, o comoveu e o levou à conversão. Ele não viu Nossa Senhora, porém pelas atitudes de Santa Bernadette soube que a Rainha do Céu ali se encontrava.

    “Analisemos a situação de alma desse homem. Sentia-se, ao mesmo tempo, humilhado e pasmo, pois não podia crer que ele, cético, havia sido tão bem tratado por Nossa Senhora e transformar-se no objeto de um milagre gratuito alcançado por Ela em seu favor. De nenhum modo merecia ter essa espécie de visão indireta da aparição, e menos ainda receber aquela inestimável graça concedida pelas mãos de Maria. E entretanto, pelo simples reverberar da presença d’Ela sobre a figura de Santa Bernadette, a Virgem tocou sua alma e venceu todos os seus orgulhos, fazendo-o pensar: ‘É espantoso! Eu, até há pouco tão ruim, tão pretensioso, tão miserável, o menos indicado a obter tamanha dádiva, contra todas as expectativas a recebo. Como é misericordiosa a graça que bate em portas tão conspurcadas, e de forma tal que a porta quase não pode recusar-se a abrir!’

    “A obra maravilhosa que a graça realizou na alma desse homem foi precursora dos esplendores que a mesma graça operaria em milhares de almas que passariam por Lourdes e ali seriam tocadas pelo milagre. E em tantas outras que, embora achando-se distante da gruta de Massabielle, converter-se-iam ao ouvirem as descrições dos milagres. O dom extraordinário concedido àquele cético foi como a primeira gota de uma verdadeira inundação de graças que viria para o mundo, a partir do dia 11 de fevereiro de 1858, quando Nossa Senhora apareceu pela primeira vez a Santa Bernadette.

    “Desse fato devemos colher um importante fruto. Se tomarmos em consideração que, em favor de um incrédulo, Nossa Senhora alcançou graça tão insigne, dádiva muito maior obterá Ela para aqueles que perseveram na Fé. E, portanto, podemos esperar com inteira confiança e devoção que Ela nos consiga de seu Divino Filho graças superlativas, de modo particular na festa de Nossa Senhora de Lourdes. Razão pela qual me parece assaz conveniente que, nessa data mariana, nos ajoelhemos aos pés de uma imagem d’Ela e Lhe supliquemos, com entranhado fervor, as graças de que mais necessitamos, quer para nossa vida espiritual como para remediar nossas dificuldades temporais.”

    Plinio Corrêa de Oliveira

    Revista Dr Plinio (Fevereiro de 2007)

  • Socorro dos pecadores

    Saibamos que o melhor corretivo para nossas incertezas na vida espiritual é a devoção a Maria Santíssima. Embora nos sintamos indignos de sermos atendidos, devemos rezar com redobrada confiança, compreendendo de modo vivo e prático que não é necessário ser bom, não é preciso possuir méritos ou grandes virtudes para ser ouvido.

    Alcançaremos as graças que nos importam porque nos foi dada uma onipotente Medianeira junto ao Mediador: Ela é o socorro, mais do que dos justos, dos pecadores. Tenhamos consciência dessa verdade, e nossa oração subirá ao Céu com uma ardorosa esperança, uma inteira convicção de que será favoravelmente acolhida.

  • Ladainha da Humildade – Desprendimento e amor a Deus

    Dr. Plinio nutria grande apreço — e a recomendava vivamente a todos — pela  Ladainha da Humildade, composta pelo Cardeal Rafael Merry del Val, Secretário de Estado  do Papa São Pio X.
    Conforme ressaltava Dr. Plinio, é a humildade um dos importantes esteios para a perseverança do católico, como salvaguarda da virtude da pureza e da autenticidade de qualquer ato piedoso.

    A Ladainha da Humildade, escrita pelo Cardeal Merry del Val, embora magnífica e de inestimável proveito para as almas, devendo ser rezada amiúde, poderia admitir certo desenvolvimento particularmente útil para os membros de nossa obra.

    Contrária à visão egoísta da vida

    Nesse sentido, ocorreu-me fazer uma aplicação dos mesmos conceitos enunciados pelo Cardeal Merry del Val a tópicos que nos interessam de modo especial.

    Sob um certo ponto de vista, essa oração poderia ser chamada “Ladainha do Desprendimento”, pois todos os pedidos nela formulados têm por objetivo evitar o egoísmo.

    Assim, os desejos de ser estimado, amado, honrado, consultado, preferido, de ser mais santo do que os outros, etc., resultam, em última análise, da preocupação egoísta de considerar-se o primeiro e ter tudo para si. Em síntese, de quem possui, como ideia fixa, o “eu, eu, eu”.

    Crescer no amor a Deus e ao próximo

    Surge, então, este pensamento: “Está bem, não desejo ser amado, conhecido, louvado. Esse é o lado negativo do assunto. Qual será seu aspecto positivo?”

    O lado positivo, contrário ao egoísmo, consiste não apenas no amor ao próximo, mas, sobretudo, no amor a Deus. O verdadeiro amor ao semelhante é um reflexo do amor a Deus, que se exprime também pela devoção a Nossa Senhora, à Santa Igreja Católica Apostólica Romana — Corpo Místico de Cristo — bem como pelo amor à vontade do Altíssimo e, portanto, à nossa vocação, ao movimento do qual participamos.

    Em conseqüência, apresentar o lado positivo dessa Ladainha envolve a seguinte questão: ao entrar num ambiente, devo sinceramente estar despreocupado de ser o primeiro, de ser honrado, louvado, estimado, consultado, etc., e cumpre tomar essa atitude por amor a Deus. Portanto, preciso querer que o Criador e a Igreja sejam amados sobre todas as coisas; e seja eu capaz de amar minha vocação acima de todas as coisas meramente humanas.

    Ter sempre em mente o aspecto positivo desses pedidos

    Importa considerar também que, ao me esforçar para evitar que o amor próprio, o orgulho e o egoísmo me dominem, preciso ter uma certa visualização que me ajude a combater esses defeitos. Imagine-se, por exemplo, que eu pronuncie uma conferência e o público, muito indulgente e pouco dado a críticas, me cumule de aplausos. Qual deve ser o pensamento correto a se formular nessa hora?

    “Que ovacionem a mim, não tem importância. Minha exposição conseguiu despertar o amor a Deus e à Igreja Católica em alguém? Esses aplausos significam um verdadeiro movimento de virtude que minhas palavras suscitaram? Se assim foi, alegrar-me-ei. Não, porém, quanto ao que diz respeito a mim, porque esta é minha razão de ser. Sou filho de Deus e da Santa Igreja, servo de Nossa Senhora: com isto devo me preocupar.”

    Ter sempre em mente esse aspecto positivo da Ladainha da Humildade é um esplêndido auxílio para se praticar de modo completo essa virtude propugnada pelo Cardeal Rafael Merry del Val em sua prece, bem como para evitar os defeitos nela apontados.

    O modo mais acertado de se rezar a Ladainha da Humildade

    Assim, parece-me em extremo conveniente meditarmos sempre no conteúdo dessa valiosa oração. E fazê-lo com aplicações concretas à nossa vida quotidiana, ao nosso dia-a-dia na vocação. Pois o amor próprio é algo tão contínuo, polimórfico e profundamente radicado na natureza humana, que qualquer pessoa, não tendo vigilância, acaba sendo meio infiltrado — para dizer pouco! — por ele.

    Exemplifico. Se desempenhamos uma tarefa de modo bem feito, obtemos um grande resultado para nosso apostolado e, por isso, somos objetos de admiração dos outros. A pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: “Agimos assim por satisfação própria ou por Nossa Senhora? Para sermos aplaudidos ou a fim de que Ela seja bem servida?”

    Se realizamos o trabalho para glorificar a Santíssima Virgem, é o correto e o desejável. Mas, se eu degustar os elogios e pensar: “Homem! Fiz tal coisa, e como os outros me admiraram naquela hora! Fulano, que sempre me contraria, ficou com uma face comprida…” — estarei me entregando a considerações lastimáveis, as quais roubam todo o mérito do meu apostolado.

    Precisamos ser indiferentes ao fato de aparecermos ou não naquilo que fazemos nas vias da nossa vocação. E para se alcançar esse desprendimento, só há um meio eficaz: examinar-se e perguntar se Nossa Senhora de fato está bem servida, honrada e glorificada com nossas realizações.

    Quer dizer, o modo mais prático e correto de rezar a Ladainha da Humildade é fazer continuamente essas aplicações ao nosso comportamento na vida interna de nossa associação. Por outro lado, se empreendemos um trabalho importante e ninguém nos elogia, não nos incomodemos. Desde que tenhamos procurado atender aos desígnios de Deus, o resto não importa.

    É procedendo dessa forma que se combate inteiramente o egoísmo e o orgulho.

  • Gloriosa perenidade

    Durante as visitas que fiz a Roma, agradava-me discernir e sentir algo que eu chamaria de a perenidade da Igreja Católica, quer dizer, o modo maravilhoso como ela vai prolongando sua existência neste mundo. Na sua história os séculos se sucedem e como que se confundem, formando uma espécie de miscelânea suavíssima, importantíssima, seríssima, de tal maneira que, ao  contemplarmos os vários templos católicos de Roma, admiramos os passos da Igreja através dos tempos.

    Dir-se-ia que todas as épocas vividas por ela ali se revelam, num estado ligeiramente melancólico, porém doce, tranqüilo — não isento de bem-estar — e olhando para a eternidade, como quem diz: “Meu dever está cumprindo, mas resta-me a mim o estar aqui, para representar o papel no cortejo dos séculos até que a peregrinação do homem sobre a face da Terra se complete”.

    O visitante com uma alma sensível a esses aspectos, pode se deter diante de qualquer uma dessas igrejas romanas e talvez perceberá, como eu percebia, que aquele edifício sagrado traz consigo a atmosfera dos primeiros anos do Cristianismo; junto a ele, ou no seu interior, ainda ecoam gemidos de mártires, e a luz do sol, neste momento ou naquele, banha de uma luz incomparável a face de uma imagem ou a ponta de um mosaico seculares.

    Essa sensação nos faz imergir no passado, e como que degustarmos as graças e a santidade da Igreja como estas se manifestavam aos homens daqueles remotos tempos. Em torno daquelas obras de arte, imagens, relicários, essa santidade e essas graças como que se mantiveram paradas.

    Mais de uma vez pude constatar essa impressão. Passava diante de uma igreja romana, detinha-me por  alguns instantes a admirá-la e sentia vir do seu interior um arfar dos séculos mesclado a um vento que consigo carreava graças, e aquilo me envolvia por inteiro. Adiante, outra igreja, outra beleza, os mesmos sentimentos.

    Isto fala muito da perenidade da Igreja. E, de fato, toda grande instituição que vem do fundo dos séculos e caminha séculos para frente, a fim de alcançar genuína glória precisa ter algo pelo menos desse ocaso em que se misturam todas as épocas já vividas por ela. Sem esse predicado, se tudo for novo e composto no momento presente, será como uma criança recém-nascida no berço.

    Não. Viva, sofra, lute, combata sua batalha! Atravesse uma longa existência e seja a pessoa heroica em cuja alma se somam os diversos estados de espírito que a modelaram. Seja alguém no qual dorme o passado e pulsa o futuro!

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 10/6/1987)