Categoria: Santos do dia

  • Tão pequena menina e já tão grande santa

    Tão pequena menina e já tão grande santa

    Nesta fotografia aos oito anos de idade, Santa Teresinha está olhando para um ponto vago, indefinido, mas com uma espécie de contemplação enlevada, afetuosa, respeitosa. Em última análise, é o olhar próprio de um espírito possantemente contemplativo.

    Santo Agostinho disse de si, nas “Confissões”, referindo-se à sua infância: “Tão pequeno menino eu era, e já tão grande pecador”. Dela poder-se-ia dizer: “Tão pequena menina era, e já tão grande santa”. Porque seu olhar tem qualquer coisa que me custa exprimir adequadamente, mas que é aquela impostação da alma em coisas que são inteiramente superiores. Foi uma infância profundamente consciente, meditada e raciocinada.

    Aqui está Santa Teresinha do Menino Jesus com todo seu tesouro de meditação que pode existir numa alma de criança; ela viveu a infância fiel a si e continuou a ser ela mesma até o apogeu de sua maturidade. É uma coisa magnífica!

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência provavelmente feita em janeiro de 1968)

  • Santa Teresa do Menino Jesus e a pequena via

    Santa Teresa do Menino Jesus e a pequena via

    Há dez anos Dr. Plinio entregava sua alma a Deus, no tríduo da festa de Santa Teresinha (outrora celebrada no dia do falecimento de Dr. Plinio, 3 de outubro).
    Ele próprio fizera o oferecimento de si como vítima do amor misericordioso por aquelas almas e aqueles acontecimentos que esperara, baseado na leitura das obras da Santa de Lisieux (cfr. Editorial, página 4).
    Transcrevemos a seguir, um dentre os diversos comentários tecidos por Dr. Plinio à edificante vida e missão de Santa Teresinha.

     

    Em fins do século XIX a Divina Providência suscitou Santa Teresinha do Menino Jesus para despertar uma nova forma de espiritualidade própria a conduzir grande número de almas a Nosso Senhor. Foi uma resposta de Deus às manobras feitas para encharcar de Revolução a mentalidade do homem ocidental. Essa réplica consistiu na famosa pequena via a qual conforme afirmação profética da Santa, haveria de levar incontáveis almas ao Céu.

    Um caminho para os menos fortes

    A pequena via é própria aos espíritos mais débeis, sem meios naturais para realizar extraordinários atos de generosidade interior que marcaram tantos santos do passado os quais se flagelavam de maneira espantosa, faziam penitências terríveis, sofriam cruzes e provações pavorosas, porque eram assistidos pela graça e esta encontrava neles uma natureza capaz de grandes feitos.

    Quando Santa Teresinha surgiu, as pessoas já estavam profundamente infiltradas de Revolução e, portanto, sem a coragem e disposição para lances heroicos de virtude. Por desígnio da Providência, ela abriu às “pequenas almas” (como as chamava) o caminho para o Céu.

    Trata-se da via do reconhecimento da própria fraqueza e da ausência de coragem, de força de vontade para enfrentar imensos sacrifícios . E da convicção de que Nosso Senhor se compadece das almas fracas, diminutas em comparação com as do passado, e que assiste àquelas com bondade, afabilidade, abundância de graças que substituem nelas, vantajosamente, aquilo que a natureza não lhes proporcionou.

    Santa Teresinha já como Carmelita professa

    Desde muito jovem Santa Teresinha sentiu o chamado à perfeição, e dedicaria seus breves anos de vida a ensinar às “pequenas almas” o caminho para o Céu.

    Quer dizer, para as pessoas dos séculos anteriores atingirem o pleno amor de Deus eram necessários — valendo-me de uma expressão inadequada — tantos quilowatts de sofrimentos. Porém, as do tempo de Santa Teresinha, e a fortiori as de nossa época, são incapazes de suportar tais graus de ascese. Então, a rogos de Maria Santíssima, a graça lhes concede vigor para carregar menores quantidades de cruzes. Porém, elas o fazem com tanta intensidade de amor que acabam suprindo a quota de sofrimentos pelos quais não suportariam passar. Pois aos olhos de Deus, o importante não é o quilowatt da dor, e sim a intensidade de amor com que é padecida.

    Dessa sorte, o que as grandes almas conquistavam apenas no fim de sua existência, depois de muitos tormentos, as da  pequena via recebem gratuitamente logo no começo da vida espiritual, unindo-se a Nossa Senhora, à Santíssima Trindade, por uma particular bondade de Deus. Esta graça encurta o caminho e faz   amor nascer cedo, tão veemente que, com uma “quilowatagem” menor de sofrimento, brilha com uma luz fulgurante.

     

    Admirável exemplo de Santa Teresinha

    O modelo característico dessa via foi a própria Santa Teresinha do Menino Jesus, uma pequena alma típica, cônscia de sua incapacidade de suportar grandes sofrimentos. Entretanto, recebeu ela tal intensidade de amor a Deus que, desde menina, fidelíssima à sua vocação, fazia meditações e amava tanto as coisas do  Céu que sobrepujava em virtude a um número incontável de pessoas.

    Levou uma existência de verdadeiro sofrimento no Carmelo de Lisieux, tendo sido acometida por uma provação  muito freqüente no claustro, embora no seu caso se apresentasse mais profunda: a aridez contínua, devido à qual ela não sentia consolações na piedade, nem no imenso amor a Deus que possuía.

    “Santa Teresinha solicita autorização de seu pai para entrar no Carmelo” – Buissonnets, Lisieux (França)

    Nessa situação, própria a afligir qualquer um, ela sempre manteve confiança cega na Providência, e reafirmava  a cada instante seu desejo de morrer como vítima do amor misericordioso de Nosso  Senhor para com aqueles que seguem a pequena via.

    E, de fato, certa noite, quando já se achava deitada para dormir, Santa Teresinha sentiu o peito incomodado e expeliu uma golfada. Veio-lhe logo a idéia de que poderia ser sangue, indício da  fatídica doença daquela época, a tuberculose. Essa enfermidade tornou-se comum em fins do século XIX, e a medicina não lograva combatê-la eficazmente, pois não descobrira ainda os  medicamentos existentes hoje. Assim, grande era o número de vítimas dessa moléstia.

    Ora, Santa Teresinha experimentou tal alegria diante da hipótese de estar tuberculosa, que ofereceu a Deus o sacrifício de não examinar de imediato o lenço sobre o qual golfara durante a noite, e fazê-lo apenas na manhã seguinte, à luz do dia. Verificando depois ser mesmo sangue, transportada de júbilo, ela compreendeu que sua derradeira paixão começava.

    Manifestou-se desse modo a tuberculose, doença  lenta, trágica sob vários aspectos, sobretudo naquele tempo, quando tantos dela sofriam e morriam. Era, pois, uma via comum, na qual a noite escura e o abandono se tornaram cada vez maiores.

    Santa Teresinha passou a ser provada com tentações contra a Fé (também assíduas na vida dos santos), e chegou a afirmar serem estas tão violentas que só acreditava porque queria crer, tanto as razões de fé se tinham obnubilado em seu espírito. Sentia que estava morrendo, e na Terra nada mais havia para ela. Porém, a morte vinha aos poucos, a conta-gotas, no meio do sofrimento e da Dor.

    Relíquia de Santa Teresinha – Carmelo de Lisieux

    De seu leito, ouviu um dia a conversa entre duas freiras sobre seu fim próximo, e este comentário: “Quando falecer nossa Irmã Teresa do Menino Jesus, e for preciso escrever uma circular às demais comunidades contando como transcorreu a vida dela no claustro, não sei realmente o que será narrado. Porque ela não fez nada. Ao longo dos anos passados aqui, realizou apenas coisas pequeninas…”

    Vítima do amor misericordioso, Santa Teresinha ofereceu as dores  comuns do dia-a-dia, bem como as grandes provações durante a doença, com intensa caridade, salvando assim um incontável número de almas.

    Nossa Santa sentiu-se consolada ao ouvir essas palavras, pois de fato ela oferecera somente sacrifícios menores a Nosso Senhor, que os recebia por meio de Nossa Senhora. Entretanto, devido ao amor com que eram aceitos, o Redentor os acolhia com sumo agrado. Assim, ela salvava um incontável número de almas. Ela abria dessa forma a pequena via.

    Santa Teresinha em seu leito de dor

    Então, uma característica da espiritualidade de Santa Teresinha é esse modo de oferecer as dores comuns do dia-a-dia, as quais Deus pede habitualmente a todo mundo. Porém, trata-se de  oferecê-las como o fez a vítima do amor misericordioso de Nosso Senhor.

    Uma inundação de graças…

    Santa Teresinha nunca se vira favorecida por graças místicas extraordinárias, como visões ou revelações. Até que no último momento de sua vida foi arrebatada num êxtase, ficou transportada de alegria, ergueu-se na cama e disse palavras de entusiasmo diante daquilo que via. Depois, reclinou-se e expirou. Seu corpo jazia nesta Terra, mas sua alma já ingressava na eterna bem-aventurança.

    Dentro da extrema pobreza carmelitana, seus funerais foram esplêndidos, porque um quintessenciado aroma de violeta, procedente não se sabe de  onde, dominou literalmente o lugar em que o corpo dela se encontrava exposto à visitação pública. Como uma de suas primeiras intercessões junto à misericórdia divina, obteve a conversão da superiora de seu convento, que tanto a tinha amargurado.

    De lá para cá, Santa Teresinha inundou o mundo com graças,sendo considerada a mais solícita em atender os pedidos feitos, inclusive os relativos aos bens terrenos. Nesse sentido, célebre é o caso  passado em um convento na cidade de Galípoli, na Turquia. Essa comunidade se achava em grandes apuros financeiros, sem nenhum dinheiro para pagar suas despesas. A superiora implorou então o auxílio de Santa Teresinha: no dia seguinte, ao abrir o cofre da casa, encontrou a quantia necessária e mais ainda.

    Obtendo-lhes donativos materiais, Santa Teresinha atrai s almas para que peçam bens espirituais. E ela as atende.

    Destinada a socorrer a Terra

    Tinha ela certeza de que seria canonizada, e nos últimos  dias de sua vida recomendava conservassem fragmentos de suas unhas ou fios de suas sobrancelhas, dizendo: “Guardem-nos, porque após minha partida, haverá pessoas que ficarão felizes tendo isso”. Quer dizer, seriam distribuídos como relíquias após sua glorificação nos altares.

    Em diversas ocasiões pronunciou ela essa linda frase: “Passarei meu Céu fazendo bem sobre a Terra”. E também afirmou: “Só estarei inteiramente livre das coisas da Terra depois que o número dos eleitos estiver completo”. Se pensamos que esse total dos escolhidos só será atingido no fim do mundo, esse dito significa que ela intervirá em nosso favor enquanto houver homens atuando na Terra.

    “Passarei meu Céu fazendo o bem sobre a Terra”, costumava dizer Santa Teresinha, prometendo interceder pelos homens até o fim do mundo”.

    Foi, portanto, uma Santa especialmente designada pela Providência para fazer grande bem à Terra. Muitos eleitos há cuja memória, por assim dizer, desaparece, perde-se, devido à versatilidade humana. Algum benefício eles fazem, porém menor se comparado com o realizado por uma Santa que vai para o Céu com o programa de continuar a agir intensamente nos acontecimentos terrenos, apenas repousando quando o número dos escolhidos estiver completo.

    Alegria com a felicidade dos habitantes do Céu

    Para Santa Teresinha, cada ano que passa é um período de ação, de vitória, de esplendor. Pois no dia de sua festa, a um título especial, comemora-se um aniversário que a torna intensamente feliz e aumenta sua glória no Céu. É verdade que esta, no Paraíso, não cresce após ter terminado o mundo. Mas, enquanto tal não suceder, é passível de aumento. Por exemplo, se um bem-aventurado escreve um livro, e 200 anos depois de sua morte essa obra é ocasião de instrumento para a salvação de alguém, a alegria e a glória dele se avolumam no Céu.

    Alguém poderia objetar: “Dr. Plinio, sinto-me um pouco insultado pensando em meus sofrimentos aqui no mundo, nesse vale de lágrimas, e o senhor anuncia que Santa Teresinha, já muito feliz, recebeu uma felicidade a mais no Céu. Parece uma distribuição desigual dos dons divinos…”

    Ora, os planos de Deus não são igualitários, e, sobretudo, os relativos aos que estão no Céu e na Terra. Permanecemos aqui para sofrer e expiar, e os santos no Paraíso para desfrutar a verdadeira felicidade. Se padecermos, lutarmos e expiarmos bem, seremos também daqueles que irão para o Céu, felizes por toda a eternidade.

    Dessa maneira, há uma inteira proporção, não igualdade, entre a nossa desventura e a ventura de Santa Teresinha.

    Mais. Devemos nos rejubilar com todos que se acham no Paraíso, pois nos precederam nesta Terra com o sinal da Fé. Viveram antes de nós com o signo da Cruz. São nossos irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo, em Nossa Senhora, e nos cabe desejar a alegria deles: a felicidade de um irmão interessa a outro irmão.

    Por fim, cumpre considerarmos que, ao ver nosso contentamento pela felicidade dela, Santa Teresinha há de se tornar particularmente propensa a nos alcançar graças cada vez maiores. Do Céu, ela nos acompanha com afabilidade, com um sorriso todo dela, e dirige à Santíssima Virgem uma empenhada prece por nós: para que aumente nossa fé, nossa crença, nossa esperança e nosso gáudio com as glórias futuras que nos aguardam na venturosa eternidade, junto a ela e aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.

    Plinio Corrêa de Oliveira

    (REVISTA DR. PLINIO 91, Outubro 2005)

  • Vítima expiatória

    Santa Teresinha tinha uma certeza interior — baseada em indícios muito bem escolhidos, definidos e analisados de sua vida espiritual — de que ela seria uma vítima expiatória do Amor Misericordioso, e de que deveria realizar isto no Carmelo.

    Diante dos maiores obstáculos, ela não teve nenhuma dúvida de que entraria para o Carmelo, e de que o Amor Misericordioso a chamaria, em determinado momento, para consumi-la como vítima.

    Assim, ela teve ocasião de dizer, no meio de todas as amarguras pelas quais passou, que a taça dos seus desejos estava cheia até os bordos. Essas amarguras eram os desejos dela, os sofrimentos que ela queria ter.

    Isto é a confiança! Santa Teresinha tinha uma sólida convicção de que era esta a finalidade dela, e a certeza de que a Providência faria todo o necessário para que se realizasse este objetivo.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/8/1973)

  • São Jerônimo

    São Jerônimo

    Num período onde o patriciado e a nobreza romana ganharam novo brilho devido à influência monástica, São Jerônimo mostrou-se um zeloso apóstolo e um exímio lutador pela glória virginal de Maria. Dotado por Deus com o carisma da polêmica, ele apontou o mal que há na heresia para depois falar a respeito da verdade.

     

    A respeito de São Jerônimo, Confessor e Doutor da Igreja, Dom Guéranger, no “L’Année Liturgique(1), diz o seguinte:

    Estranho fenômeno para o historiador sem fé: eis que em torno deste dálmata, na hora onde a Roma dos Césares agoniza, se irradiam subitamente os mais belos nomes da Roma antiga. Crer-se-ia que eles estavam extintos, desde o dia onde se tornou obscura entre as mãos dos “parvenus” da glória a cidade rainha.

    Nos tempos críticos em que, purificada pelas flamas que os bárbaros incendiaram, a capital que eles deram ao mundo vai retomar seus destinos e reaparece, como por seu direito de nascimento, para fundar novamente a cidade eterna. A luta se tornou outra, mas seu lugar continua à testa do exército que salvará o mundo. Raros são entre nós os sábios, os poderosos, os nobres, dizia o Apóstolo, quatro séculos antes. Numerosos eles são em nosso tempo, protesta Jerônimo, numerosos entre os monges.

    O patriciado e a nobreza ganham novo brilho na Roma Eterna

    O pensamento está expresso com uma complexidade um pouco século XIX e, portanto, creio que não muito clara para a geração atual. Mas, em duas palavras, quer dizer o seguinte:

    Roma estava decaindo. As antigas famílias, às quais Roma devia a sua antiga glória política, não a estavam mais dirigindo devido ao seguinte fenômeno: o pessoal adventício, que dominara Roma, havia deixado numa certa penumbra as famílias antigas; mas essas famílias — que no começo do Cristianismo, quando elas dirigiam a sociedade civil, eram pouco numerosas entre os católicos —, na época de São Jerônimo, no fim do Império Romano, eram muito numerosas entre eles.

    Quer dizer, a nobreza e o patriciado romanos tinham um papel de vanguarda na direção dessa segunda Roma, que não era mais a Roma dos Césares, que estava morrendo, mas a Roma dos Papas, que estava nascendo. E eles se encontravam na liderança da vida religiosa e da expansão católica no mundo.

    A falange aristocrática constituiu o melhor do exército monástico.

    Ou seja, o melhor das vocações para monges era de nobres.

    Nesses tempos de sua origem no Ocidente…

    Em que o monaquismo, que já existia no Oriente, começou a nascer no Ocidente.

    … ela lhe deixará para sempre seu caráter de antiga grandeza.

    O caráter da antiga grandeza nobiliárquica comunicou algo para a dignidade do monaquismo.

    Mas nas suas fileiras, a título igual de seus pais e de seus irmãos, se veem a virgem e a viúva, ao mesmo tempo o esposo e a esposa. É Marcela, que será para ele o auxílio na tradução das Escrituras. E, como ela, Fabíola, Paula e outras que lembram os grandes ancestrais, os Camilii, os Fabii, os Scipiones.

    Camilos, Fábios e Cipiões eram grandes famílias nobres. E, em linguagem mais simples, Dom Guéranger menciona nobres — como viúvas, virgens, ou esposo e esposa, sendo separado o casal — que iam viver no estado monástico, conferindo-lhe algo de sua antiga grandeza.

    São Jerônimo, vingador da glória virginal de Maria

    Nesta altura, a refutação de Elvidius, que ousava pôr em dúvida a perpétua virgindade da Mãe de Deus, revelou em Jerônimo o polemista incomparável, do qual Joviniano, Venâncio, Pelágio e outros ainda teriam que experimentar o vigor.

    Eram hereges que São Jerônimo fustigou vigorosamente.

    Como recompensa, entretanto, de sua honra vingada, Maria conduzia a ele todas essas almas nobres. Ele as dirigia no caminho da virtude e, pelo sal das Escrituras, as preservava da corrupção da qual morria o Império Romano.

    Então, aqui se completa esse bonito pensamento que explica a tarefa de São Jerônimo.

    Um apóstolo da alta aristocracia

    Ele não era apenas o grande herói que lutava contra os hereges, mas também salvava da podridão o que Roma tinha de melhor, as antigas famílias aristocráticas, e as conduzia para a conquista do mundo, para a Roma dos Papas, e não mais para a Roma dos Césares. O santo realizava isto por meio de assistência espiritual à alta aristocracia romana, que já não tinha poder político, mas ainda era fabulosamente rica naqueles tempos.

    Qual é a consideração que isto nos traz ao espírito?

    São Jerônimo tinha em mente a importância das elites para a direção da sociedade. E ele soube compreender que um movimento católico que vise levar o mundo inteiro para a Igreja, a cristianização do mundo, deve contar com todas as classes sociais, levando cada uma a dar o contributo que lhe é específico. Portanto, a classe aristocrática deve prestigiar a expansão apostólica com o valor do nome, da fortuna, mas sobretudo com o valor de certo prestígio indefinido, que se ligava merecidamente às grandes famílias da aristocracia romana.

    Quer dizer, ele compreendeu que, acionando as classes mais influentes, havia um meio para acionar toda a sociedade e para obter a cooperação dela para a luta pelo Reino de Cristo.

    Austero, polemista e zeloso pela glória de Deus

    No breviário antigo consta um elogio a São Jerônimo, que convém comentar:

    Molestou os hereges com acérrimos escritos.

    Existiram santos dotados de carismas extraordinários para a posição polêmica. Um deles foi São Jerônimo. De fato, ele representa, por excelência, na Igreja, o espírito da polêmica. Os seus escritos são de uma energia, para não dizer de uma violência, que pareceria desabotoada se não fosse ele um santo. E para as menores questões ele dava respostas de fogo tremendas, e deixava todo mundo tremendo diante dele.

    Certa ocasião, Santo Agostinho chegou a escrever-lhe uma carta muito engraçada, dizendo que, com metade da energia empregada, já cederia diante de São Jerônimo. Li uma missiva de São Jerônimo a uma dirigida dele, uma santa, que lhe mandou, aliás, um lindo presente: pombinhos e cerejas; e ele respondeu perguntando se ela queria corromper a austeridade dele, e afirmou que imediatamente deu aquilo para os pobres, porque era um homem penitente.

    Isto é o zelo da Casa de Deus, que devora o homem, uma das formas mais características, portanto, das mais santas, mais legítimas dessa virtude. Desde que seja feito por amor de Deus, e não por ressentimentos pessoais — porque com ressentimentos a coisa muda de aspecto —, isto é uma coisa santíssima, é ser um gládio vivo de Deus. Não conheço elogio maior do que dizer de alguém que ele é a espada viva de Deus.

    A polêmica visa sobretudo influenciar os indecisos

    Em matéria de polêmica, é preciso sempre prestar atenção no seguinte: os espíritos modernistas consideram a existência de duas figuras, uma que diz “A” e outra que diz “B”; eles não tomam em consideração um terceiro elemento, que é talvez o mais importante no caso: o público que assiste à discussão.

    Toda polêmica, ainda que seja feita a portas fechadas, vai repercutir fora e atuar sobre pessoas que estão na dúvida, e que se trata de convencer.

    Quando se discute, por exemplo, com um pastor protestante, o mais importante não é convertê-lo, mas evitar que os católicos fiquem protestantes. Em segundo lugar, converter os protestantes menos empedernidos que ali estão. E por fim converter o pastor.

    Ao homem em risco fala-se usando a linguagem do medo

    Imaginemos que um amigo nosso esteja se debruçando perigosamente sobre um parapeito pequeno que dá para um abismo. Nós não lhe diremos: “Fulano, venha para cá, porque o chão é de mármore!” Mas falaremos: “Cuidado! Caindo nesse abismo você arrebenta a cabeça!” Porque o modo de afastar um indivíduo imediatamente do perigo e da imprudência é mostrar-lhe o mal que lhe sucederá e não o bem.

    Quem de nós haveria de dizer para uma pessoa que, por exemplo, está brincando com um revólver imprudentemente: “Fulano, você quer ir jogar xadrez?”, para ver se ele tira o dedo do gatilho e depois lhe tiramos o revólver. Seria de nossa parte uma atitude idiota. Poderíamos falar-lhe: “Fulano! Olhe esse revólver! Você pode se ferir gravemente ou me ferir!”

    Quer dizer, normalmente, ao homem em risco, tentado, deve-se falar usando a linguagem do medo. Isto é, sobretudo, verdadeiro no que diz respeito à Doutrina Católica, porque os homens, pela sua maldade, são mais fáceis de se mover pelo medo do Inferno, do que pela apetência do Céu; pelo temor das más consequências, do que pelo bem que pode acontecer. E é preciso, portanto, como remédio de urgência, apontar o mal, a falsidade, que há no erro para depois falar a respeito da verdade.

    Assim se compreende a posição polêmica de São Jerônimo.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 30/9/1964 e 29/9/1966)

    1) GUÉRANGER, Prosper. L’Année Liturgique. 14. ed. Tours: Alfred Mame et fils, 1922, v.V, p. 327-339.

  • Vínculo entre Anjos e homens “angelizados”

    Quando os medievais se referiam aos Anjos, falavam muitas vezes da Cavalaria Angélica. Diziam que os espíritos celestes foram os primeiros cavaleiros porque lutaram contra os primeiros maus: os anjos revoltosos.

    Não nos é fácil compreender como foi o “prœlium magnum”, esse grande combate travado no Céu entre os Anjos e os demônios. Como um puro espírito luta contra outro? Quais são os recursos de um espírito para vencer o outro, a ponto de precipitá-lo no Inferno? Como se dá a expulsão de um espírito por outro, de um determinado lugar?

    Por certo, esta guerra deu-se de um modo intrinsecamente muito mais nobre do que as Cruzadas. Aqueles espíritos angélicos, no momento em que se punham em luta contra os demônios, eram confirmados em graça e conquistavam para todo o sempre a coroa eterna.

    O chefe dessa Cavalaria Celeste é o Arcanjo São Miguel que, constituído o patrono dos cavaleiros, resume em si todo o espírito das Cruzadas, da Cavalaria e, consequentemente, todo o espírito da Idade Média.

    Nós achamos tão nobre alguém derramar seu sangue por uma grande causa. Mas a nobreza de um espírito como São Miguel, desdobrando toda a sua força contra o demônio, é inimaginável! É tal a beleza do Príncipe da Milícia Celeste que o intelecto humano não é capaz de captar, mas de algum modo pode suspeitar, entrever, conjecturar, à maneira de um degrau para imaginarmos a infinita perfeição de Deus.

    Sem dúvida, também nessa guerra incruenta em que estamos engajados – guerra psicológica, de graças e carismas contra as tentações e insídias diabólicas; de um espírito de inocência contra o de cumplicidade e toda espécie de indecência, de crime e de fraude da Revolução – há muito maior nobreza do que na própria Cavalaria terrena.

    Contudo, não poderemos contrarrestar a ofensiva revolucionária se não formos tais que os Anjos se reconheçam afins conosco e nossos naturais aliados; sem que estabeleçamos com a Cavalaria Angélica essa consonância por onde os celestiais guerreiros venham lutar conosco e dentro de nós com uma naturalidade como se o abismo que nos separa deles não existisse.

    Este vínculo entre Anjos e homens, e de homens por assim dizer “angelizados” entre si, agindo sobre a opinião pública no sentido contrarrevolucionário, em continuidade com a Cavalaria Celeste, é isto que deve nos caracterizar(*).

    * Cf. conferências de 16/10/1970, 12/2/1978 e 6/10/1981.

  • Luta espiritual cheia de amor, amor cheio de doçura

    O Arcanjo São Gabriel é aquele que mais conhece a Deus e comunica melhor este conhecimento. Daí o papel dele na Encarnação. Seu conhecimento não é meramente abstrativo, teórico, doutrinário, mas é evidentemente todo amoroso, com um amor que se manifesta na luta entendida assim: Luta espiritual cheia de amor, amor cheio de doçura. Há, portanto, uma espécie de “prœlio” no qual está, como ponto de origem e ponto terminal, o amor.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 5 e 12/12/1976)

  • Guerreiros implacáveis contra o demônio e seus sequazes

    Pode-se afirmar que todas as grandes almas que combateram as diversas heresias, ao longo dos séculos, foram especialmente suscitadas por Nossa Senhora. É o que insinua de modo muito bonito o brasão dos claretianos, onde figura, além do Imaculado Coração de Maria, São Miguel Arcanjo e, no alto, a divisa: “Os seus filhos se levantaram e A proclamaram bem-aventurada”.

    Essa presença de guerreiros que, como soldados de São Miguel Arcanjo, levantam-se para combater os inimigos de Deus, proclamando bem-aventurado o Coração de Maria, não é também uma forma de irrupção da Santíssima Virgem, como magnífica aurora, nas tramas da História? Portanto, os verdadeiros devotos de Nossa Senhora devem desejar e pedir a Ela a graça de serem esses guerreiros de ferro, indomáveis e implacáveis contra o demônio e seus sequazes que, em nossos dias, procuram conspurcar a glória da imortal Igreja de Cristo.

    (Extraído de conferência de 8/9/1963)

  • São Jerônimo: Gládio vivo de Deus

    São Jerônimo representa na Igreja, por excelência, o espírito da polêmica. Os seus escritos são de uma energia incomparável. Ele dava respostas de fogo e admiráveis, deixando todos tremendo diante dele.

    Este é o zelo da Casa de Deus que devora o homem. É uma das formas mais características, santas e legítimas do zelo. Desde que isso seja feito por amor a Deus, e não por ressentimentos pessoais, é uma coisa santíssima: ser um gládio vivo de Deus.

    Não conheço elogio maior do que dizer de alguém que ele é a espada viva de Deus, por toda parte cortando.

    São Jerônimo pode ser considerado o padroeiro do espírito polêmico.

    (Extraído de conferência de 30/9/1964)

  • São Jerônimo

    Santos houve que se distinguiram em sustentar, com admirável firmeza, a ortodoxia da Igreja Católica contra seus adversários. Um desses foi São Jerônimo, esplendoroso e magnífico, cujo talento, santidade e agudeza de espírito, dir-se-ia incandescentes como um vulcão em erupção. Ele escrevia e discutia para demonstrar a verdade, e quando um de seus argumentos a fazia reluzir, dava com isso uma glória especial a Deus.

    Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 8/12/1991)

  • Beato Carlos de Blois: Patrono dos guerreiros

    Beato Carlos de Blois: Patrono dos guerreiros

    A índole das instituições feudais, as quais eram hierárquicas, conduzia à santidade, enquanto as instituições que pressupõem uma igualdade completa levam ao contrário da santidade, que é o espírito da Revolução.

    A respeito do Beato Carlos de Blois, o General Silveira de Mello, no livro “Os Santos Militares”, diz o seguinte:

    Herda o Ducado da Bretanha

    Carlos de Blois era filho do Conde de Blois, Guy I, e da Princesa Margarida, irmã de Filipe de Valois.
    Recebeu educação esmerada e foi muito adestrado militarmente.

    Casando-se com Joana, filha de Guy de Penthièvre e sobrinha de João III da Bretanha, por morte deste último, Carlos de Blois recebeu, com sua esposa, o ducado como herança, no ano de 1341. Assumiu o governo dessa província com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes.

    O povo do seu ducado da Bretanha, olhando para ele, pensando nele, admirando-o, venerando-o, tinha nele um reflexo de Deus na Terra.

    Batalha de La Roche-Derrien
    Biblioteca Nacional da França

    Entretanto, o Conde de Montfort, irmão do Duque falecido, reclamou o direito à sucessão e pegou em armas para reivindicá-lo. Foi apoiado pelos ingleses, enquanto a França tomava o partido de Carlos.

    O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor. 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora.

    Em 1346, no combate de La Roche-Derrien, Carlos sofreu um revés e caiu prisioneiro. Encerraram-no na Torre de Londres, onde permaneceu encarcerado durante nove anos. As orações que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha.

    Nunca afrouxou seus exercícios de piedade

    A Princesa Joana, sua enérgica esposa, assumiu a direção dos negócios públicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertação do marido.

    Livre, Carlos prosseguiu com maior denodo as operações militares.

    Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte, até que por fim, em 1364, aos 29 de setembro, festa do Arcanjo São Miguel, o santo e bravo duque caiu morto na Batalha de Auray. Esta jornada heroica, última de sua vida, iniciou-a Carlos com a recepção dos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia.

    Morreu como vivera, pois, em meio a todas as lutas que enfrentava, nunca afrouxou seus exercícios de piedade e austeridade, assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religião e para seus súditos.

    Tão evidentes foram as suas virtudes, que logo após sua morte, em 1368, deram início ao processo de beatificação. São Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904. É venerado no dia de sua morte, 29 de setembro.

    Luta contra um vassalo infiel e revoltado

    Trata-se de um Santo que é, de um modo especial, o patrono dos guerreiros. Há dois modos de ser patrono dos guerreiros: um, considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Fé, lutador pela Doutrina e pela Igreja Católica. Mas neste caso é a função do guerreiro com um acréscimo que lhe é extrínseco e não necessário à condição do guerreiro. Quer dizer, o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocação quando ele luta pela Fé, mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Fé.

    O próprio do guerreiro é lutar, e o normal dele não é lutar apenas pela Fé. Mas o guerreiro pura e simplesmente, que não acrescenta a seu título essa auréola de cruzado, é aquele que luta na guerra justa pelo seu país, para defender o bem comum, ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estão confiados à sua direção.

    Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois. Como vimos, ele era Duque da Bretanha, em virtude de uma herança recebida de sua esposa. Mas o tio desta, contestando a  legitimidade desse título, revoltou-se e moveu uma guerra contra ele. Ele era, portanto, a legítima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado.

    Além disso, tratava-se da integridade do reino da França, porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses, que queriam dominar a França. E ele lutava então pela integridade do território francês, batalhando pela independência da Bretanha em relação à Inglaterra.

    Combate com um remoto significado religioso

    Essa luta pela França, por sua vez, tinha um remoto significado religioso, mas que ele não podia prever, não estava nas suas intenções. A França era a nação predileta de Deus, a filha primogênita da Igreja. A Inglaterra era nesse tempo uma nação católica, mas futuramente haveria de tornar-se protestante. E se ela tivesse domínio numa parte do território francês, daí a alguns séculos isso seria muito nocivo para a causa católica.

    Entretanto, esta consideração de ordem religiosa, que nos faz ver o caráter providencial da luta, não estava na mente desse Beato. Ele tinha em vista, como Duque, lutar pela integridade do  território de sua pátria próxima, que era a Bretanha, e de sua pátria mais genérica que era a França.

    Ele levou nesta luta uma vida inteira. Foram perto de 30 anos de reveses, nove dos quais ele esteve preso. Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro à sua esposa que, durante os nove anos em que ele ficou encarcerado na Torre de Londres, também lutou valentemente para conservar o ducado.

    Ao beatificá-lo, a Igreja quis elevar à honra dos altares o senhor feudal perfeito, governador e patriarca de suas terras, aristocrata e, além disso, batalhador que sabia derramar o sangue pelos seus. Esta é a síntese do senhor feudal.

    Para determinados revolucionários que vivem falando contra o feudalismo, e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente má, o exemplo do Beato Carlos de Blois e o  gesto da Igreja beatificando-o constituem um desmentido rotundo, porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente, e que através dele se pode chegar à honra dos altares.

    Mostra-nos, com mais um exemplo, quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas.

    Vemos também por este exemplo a índole das instituições. As instituições têm uma índole, uma psicologia, uma mentalidade como os indivíduos. A índole das instituições feudais levava à  santidade, enquanto que, de outro lado, as instituições que pressupõem uma igualdade completa levam ao contrário da santidade, que é o espírito da Revolução.

    Acabando com as desigualdades, se elimina a ideia de Deus

    Algum tempo atrás, tive a oportunidade de ler um livro de um dos chefes do Partido Comunista Francês, chamado Roger Garaudy, que sustentava a seguinte tese: É ridículo nós querermos fazer  suprimir no povo, por meio das perseguições, a ideia de Deus. A ideia de Deus, o povo a tem por causa das desigualdades. É considerando pessoas desiguais que o homem inferior pensa, concebe a  ideia de um Deus, o qual é a perfeição daquilo de que o seu superior lhe dá certa noção. Por causa disso — diz ele — nós não devemos primeiro exterminar a Religião, para depois acabar com a hierarquia política e social. Precisamos eliminar as desigualdades políticas, sociais e econômicas, para depois então exterminarmos a Religião. E afirma ele que, implantada por toda parte a igualdade, os símbolos de Deus desaparecem, e a ideia de Deus morre na alma dos povos.

    O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto. O povo do seu ducado da Bretanha, olhando para ele, pensando nele, admirando-o, venerando-o, tinha nele um reflexo de Deus na Terra. A duplo título, porque o santo é um reflexo do Criador na Terra, e o general, o governador, o chefe, o mestre é um superior que representa a Deus. Assim, olhando para ele, a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus súditos.

    O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente, e que através dele se pode chegar à honra dos altares.

    São Tomás abençoa a desigualdade, Garaudy blasfema contra ela

    Aliás, é precisamente o que ensina São Tomás de Aquino quando trata da desigualdade. Ele diz que deve haver desiguais, para que os maiores façam às vezes de Deus em relação aos menores, e  guiem os menores para o Criador. É o pensamento do Garaudy, a mesma concepção a respeito da relação entre a desigualdade e a ideia de Deus. Entretanto, enquanto São Tomás de Aquino  abençoa essa desigualdade, porque ela conduz a Deus, Garaudy blasfema contra ela, por esta mesma razão.

    Assim, nós vemos bem como a hierarquia feudal encaminhava as almas para Deus, e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadário, iluminando a França e a Europa do seu tempo com sua santidade.

    Essas considerações conduzem a uma oração especial para ele.

    Nós estamos numa profunda orfandade! Neste mundo de ateísmo, nesta época em que o igualitarismo fez por toda parte devastações tão tremendas, podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadeiros órfãos que não têm o que ele representou para os homens do seu tempo.

    Então, podemos pedir a ele que se apiede de nós nesta situação em que estamos, e que pelas suas orações faça suprir em nossas almas essa deficiência. Que o amor à desigualdade, à sacralidade, à  autoridade, o gosto de venerar, a necessidade de alma de obedecer, de se dar, de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente é a Contra-Revolução que vive em nós.

    Beato Carlos de Blois, rogai por nós!

    (Extraído de conferência de 28/9/1968)