O desenvolvimento da Teologia e o sensus fidelium

São Paulo, o incansável Apóstolo dos gentios, dirigindo-se a seus discípulos de Corinto não hesitou em afirmar: “Oportet haereses esse”(1). Tal afirmação parece paradoxal, não obstante, o mesmo Apóstolo esclarece: “…para que também os que são de uma virtude provada sejam manifestados entre vós”. (1Cor 11,19)

Com efeito, no decorrer dos tempos, o combate às heresias foi de grande valia ao desenvolvimento teológico; pois, para refutá-las, surgiram os Concílios que, através do Magistério infalível, definiam como dogma as mais importantes verdades de nossa Fé, constituindo assim o “depositum fidei”, repleto de inestimáveis valores doutrinários e morais.

Entretanto, quão mais oportuno do que a própria heresia foi a piedade popular, quando pujante e vigorosa. Anelando e interessando-se por conhecer as verdades da Fé, ofereceu ela precioso estímulo aos estudiosos, para que estes pudessem então encontrar a razão teológica das hipóteses originadas do “sensus fidelium”.

Proporcionando uma excepcional explicitação sobre tal questão, afirmava Dr. Plinio:

“O ensino da Igreja, ministrado aos fiéis, deve fazer uma distinção entre o que é teologicamente certo e o que é uma hipótese, apontando ainda os vários graus de certeza: dogma, verdade de Fé, teologicamente certo, etc.

“Porém, determinadas hipóteses piedosas — mesmo enquanto conjecturas — alimentam a piedade dos fiéis, fazendo com que o anelo e o interesse popular por tais assuntos estimulem os teólogos a estudarem, para depois o Magistério infalível dar a definição correta.

“Esse sopro de piedade dos fiéis, a respeito dos assuntos ainda não definidos pela Igreja, também faz caminhar a Teologia e o Magistério.

“Por exemplo, seria errado imaginar que a Mariologia progrediu apenas devido às heresias. Elas tiveram seu papel; entretanto, este progresso deu-se, sobretudo, pela crescente piedade da Santa Igreja para com Nossa Senhora.

“E como se deu este progresso? Aparecem mais perfeições de Nossa Senhora como hipótese; alguns zelosos a demonstram; e o Papa, quando de fato a hipótese é correta, em uníssono com este movimento, pronuncia-se.

“Quando há uma estagnação das explicitações teológicas, deve-se ao fato de muitos teólogos trabalharem num meio inteiramente fechado, entregues a pensamentos de caráter puramente técnico, sem o sopro da vida espiritual a esse respeito. Assim, o progresso da Teologia pode acabar se concentrando apenas em alguns especialistas.

“O perfeito seria as coisas passarem-se de maneira a os fiéis terem verdadeira apetência pelo dogma, à semelhança do Concílio de Éfeso, quando o povo saiu às ruas clamando e dando vivas à Maternidade de Nossa Senhora.”

(Extraído de anotações de uma conferência proferida no fim dos anos 50)

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 149 (Agosto de 2010)

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